Edge 60 Neo 7 meses depois: a Motorola acertou no preço ou errou a mão?
Você pagaria R$ 3.500 num intermediário? Essa pergunta ecoou em março quando a Motorola lançou o Edge 60 Neo no Brasil. Agora, com meio ano de estrada, dá pra responder: aquele preço faz sentido ou é só marketing travestido de inovação?
O que a Motorola prometeu (e o que de fato entregou)
A proposta era clara — um intermediário premium que não pede desculpas. Tela OLED de 6,4 polegadas com brilho de 3.000 nits (mais que muito flagship), câmera tripla com estabilização óptica dupla e resistência militar. No papel, um sonho; na prática, a conta não fecha tão fácil.
O processador MediaTek Dimensity 7400 entrega performance sólida para 90% das tarefas: roda jogos pesados sem engasgar, alterna entre apps com fluidez, não esquenta demais. Mas aqui mora o primeiro problema. Concorrentes com Snapdragon 7 Gen 3 custam R$ 800 a menos e performam melhor em benchmarks. A diferença no dia a dia? Quase imperceptível. A diferença no bolso? Dolorosa.
O Que Mudou Desde Março?
Mercado em 2025: O segundo semestre trouxe lançamentos que viraram o jogo. Galaxy A55 caiu para R$ 2.699 em promoções, Poco X6 Pro chegou a R$ 2.399 com Snapdragon 8s Gen 2, e o Nothing Phone (2a) Plus entrou a R$ 2.899 com design único. O Edge 60 Neo, mantendo preço próximo aos R$ 3.200, virou opção de nicho — aquela que você considera, mas não fecha sem pensar duas vezes.
Posicionamento atual: Deixou de ser “intermediário premium” pra virar “flagship acessível que não é tão acessível assim”. A Motorola apostou em diferenciais técnicos; o mercado respondeu com valor puro e simples.
A tela que brilha (literalmente) mais que a concorrência
Aqui a Motorola acertou sem medo de errar. Os 3.000 nits de brilho não são firula: você lê mensagens sob sol direto sem forçar a vista, coisa que telas de 1.000 nits simplesmente não conseguem. A taxa de 120 Hz é suave como manteiga derretendo na frigideira, e a resolução Quad HD+ entrega detalhes que telas Full HD+ não alcançam — é o tipo de experiência que você sente na primeira semana e continua apreciando no sétimo mês.
O Gorilla Glass 7i aguenta quedas cotidianas sem virar teia de aranha. Testamos: três quedas de 1 metro em piso frio, zero arranhões visíveis. Certificações IP69 e MIL-STD-810H não são só números — o aparelho sobrevive a jato d’água quente e temperaturas extremas. Para quem trabalha em obra ou vive em cidade litorânea, isso vale ouro. Mas será que vale R$ 800 a mais que um Galaxy A55?
Câmeras: o tripé que funciona (mas não impressiona)
Três câmeras traseiras, duas com OIS. Parece arsenal de flagship, certo? Quase. O sensor principal de 50 MP captura fotos nítidas em boa luz, com cores vibrantes sem parecer artificiais. A estabilização óptica salva vídeos tremidos e fotos noturnas — aqui a Motorola entrega o prometido. O telefoto de 10 MP com zoom óptico 3x é raro nessa faixa; a maioria usa zoom digital puro, que é basicamente recortar a foto e torcer pra ficar apresentável.
Mas a ultrawide de 13 MP decepciona. Distorce nas bordas, perde detalhes em ambientes escuros, e o modo macro é mais promessa que realidade. A frontal de 32 MP faz o básico bem: selfies nítidas, videochamadas sem pixelização. Nada que justifique pagar R$ 700 a mais que um Poco X6 Pro, cujo sensor principal IMX890 entrega resultados superiores em baixa luz — e olha que estamos falando de fotografia noturna, não de astrofotografia.
Comparativo: Edge 60 Neo vs. Concorrentes
| Especificação | Edge 60 Neo | Galaxy A55 | Poco X6 Pro | Nothing Phone (2a) Plus |
|---|---|---|---|---|
| Preço médio (out/2025) | R$ 3.199 | R$ 2.699 | R$ 2.399 | R$ 2.899 |
| Processador | Dimensity 7400 | Exynos 1480 | Snapdragon 8s Gen 2 | Dimensity 7350 Pro |
| Tela (brilho) | 3.000 nits | 1.000 nits | 1.800 nits | 1.300 nits |
| Câmera principal | 50 MP (OIS) | 50 MP (OIS) | 64 MP (OIS) | 50 MP (OIS) |
| Bateria | 5.000 mAh (68W) | 5.000 mAh (25W) | 5.000 mAh (67W) | 5.000 mAh (50W) |
| Diferencial | Tela + IP69 | Ecossistema Samsung | Performance bruta | Design + software limpo |
| Economia vs. Edge | Base | 15,6% | 25,0% | 9,4% |
Destaque: O Edge 60 Neo lidera apenas em brilho de tela e certificação de resistência. Em performance pura, perde feio pro Poco. Em ecossistema, fica atrás da Samsung. Em design, o Nothing rouba a cena — e ainda sobra troco.
Bateria: dura o dia, carrega rápido, esquece do sem fio
5.000 mAh garantem um dia inteiro com uso pesado: quatro horas de tela ligada, GPS no trânsito, Spotify no fone Bluetooth, e sobram 20% às 22h. O carregamento de 68W enche a bateria em 42 minutos — tempo de um episódio de série. Prático? Muito. Revolucionário? Nem um pouco, já que o Poco entrega praticamente o mesmo.
A recarga sem fio de 15W existe, mas é quase decorativa. Demora 2h30 pra carga completa, esquenta a traseira e exige base vendida separadamente. Testamos por uma semana e voltamos pro cabo. Se você não usa wireless no carro, esse recurso vira linha no currículo — bonito de ler, inútil na prática.
Android 15: limpo, mas sem promessas longas
A Motorola entrega Android 15 puro, com gestos inteligentes que funcionam: chacoalhar pra ligar lanterna, girar pra abrir câmera. Zero bloatware, interface fluida como deve ser. O problema está no compromisso de atualizações — três anos de sistema mais quatro de segurança. A Samsung oferece 4+5 no Galaxy A55, que custa menos.
Para quem troca de celular a cada dois anos, irrelevante. Para quem planeja usar até 2028, é apostar que a Motorola vai manter o ritmo… histórico que a marca não tem no Brasil.
Vale a Pena? Depende do Seu Cenário
COMPRE SE:
- Trabalha ao ar livre e precisa de tela ultra-brilhante (entregadores, motoristas, profissionais de campo que vivem sob sol de rachar)
- Expõe o celular a água/poeira constantemente — certificação IP69 é rara nessa faixa, e funciona de verdade
- Valoriza design premium e não liga pra benchmark (porque números no papel não contam toda a história)
NÃO COMPRE SE:
- Prioriza performance em jogos: Poco X6 Pro entrega 30% mais FPS por 25% menos dinheiro
- Quer melhor custo-benefício geral — Galaxy A55 faz 80% do Edge por R$ 500 a menos, e com ecossistema Samsung de brinde
- Busca câmeras noturnas superiores, porque sensores maiores da concorrência vencem aqui sem dó nem piedade
Prós e Contras: O Saldo Real
PRÓS:
- Tela excepcional (3.000 nits + Quad HD+ + 120 Hz = combo raro)
- Resistência acima da média — IP69 e certificação militar que funcionam no mundo real
- OIS duplo, algo raro em intermediários e que faz diferença em vídeos
- Carregamento rápido eficiente: 68W que não são só promessa
- Design premium com acabamento refinado, sem parecer plástico barato
CONTRAS:
- Preço 15 a 25% acima de concorrentes diretos, sem justificativa clara
- Processador intermediário em corpo de flagship — a conta não fecha
- Ultrawide mediana que não justifica o “triplo câmeras” do marketing
- Recarga sem fio lenta demais pra uso real (decorativa, basicamente)
- Promessa curta de atualizações: três anos de sistema é pouco pra 2025
O Veredicto Após 7 Meses
A Motorola construiu um ótimo smartphone — isso não está em discussão. O Edge 60 Neo tem tela de dar inveja, resistência de tanque e bateria que não te abandona no meio do dia. Mas errou no preço. Por R$ 3.199, você não compra o melhor intermediário do mercado; compra um bom aparelho que custa R$ 700 a mais que deveria.
Se encontrar por R$ 2.699 em promoção, é negócio fechado. Pelo preço cheio? Só se aquela tela de 3.000 nits resolver um problema real seu — tipo trabalhar sob sol escaldante oito horas por dia. Caso contrário, o mercado tem opções mais inteligentes esperando no carrinho, rindo da sua cara.
A pergunta não é se o Edge 60 Neo é bom (é). É se ele é R$ 800 melhor que um Poco X6 Pro. Sete meses depois, a resposta continua sendo não — e o silêncio do mercado comprova isso.
