7.000 mAh no Moto G57 Power: solução real ou exagero que você vai sentir no bolso?
A Motorola acabou de lançar dois smartphones intermediários com uma promessa ousada: bateria que dura dias. O Moto G57 Power vem com impressionantes 7.000 mAh — mais que o dobro da maioria dos celulares que você carrega no bolso hoje. Mas será que isso é uma solução real para um problema do dia a dia ou apenas um número bonito para chamar atenção? E mais importante: vale a pena esperar esses aparelhos chegarem ao Brasil quando você já tem Redmi Notes e Galaxy As disponíveis agora?
Convenhamos: números impressionam, mas no fim das contas, você quer um celular que funcione para sua vida real.
O que a Motorola está propondo (e por quê)
Apresentados no início deste ano para Europa e Oriente Médio, o Moto G57 e o G57 Power compartilham praticamente tudo: processador Snapdragon 6s Gen 4, tela de 6,72 polegadas com taxa de atualização de 120 Hz, câmera principal de 50 MP com sensor Sony LYTIA 600 e até 24 GB de RAM (com o recurso RAM Boost que usa armazenamento como memória virtual).
A diferença? A bateria. O modelo padrão vem com 5.200 mAh — já acima da média. O Power? Salta para 7.000 mAh, um número que você normalmente só vê em tablets.
A aposta da Motorola é clara: enquanto outras marcas correm atrás de câmeras com mais megapixels ou processadores mais potentes, ela quer resolver a ansiedade de bateria. Aquela sensação de olhar para o relógio às três da tarde e ver 20% de carga restante.
Mas aqui está o dilema: bateria gigante significa celular mais pesado e grosso. O G57 Power deve passar fácil dos 200 gramas — compare com os 189g de um Galaxy A55 ou os 179g de um Redmi Note 13 Pro. É como carregar dois celulares normais no bolso.
Bateria de 7.000 mAh: marketing ou necessidade real?
Vamos ser diretos: para a maioria das pessoas, não. A menos que você seja daqueles que passa o dia inteiro no Instagram, assiste séries no celular durante o trajeto casa-trabalho-casa e ainda joga à noite, uma bateria de 4.500 a 5.000 mAh já resolve tranquilamente.
É curioso notar que existe um público específico que se beneficia:
- Viajantes frequentes: Quem pega voos longos ou passa dias em lugares sem tomada confiável
- Trabalhadores de campo: Motoristas de app, entregadores, vendedores externos que usam GPS e apps o dia todo
- Gamers mobile: Quem joga títulos pesados como Genshin Impact ou Call of Duty Mobile por horas
- Quem mora em área com energia instável: Realidade em várias regiões do Brasil
Para esse público, 7.000 mAh pode significar dois a três dias de uso sem ver a tomada. É a diferença entre carregar power bank para todo lado ou sair de casa tranquilo.
O problema? Você vai sentir o peso. Literalmente.
A IA da Motorola: diferencial real ou mais do mesmo?
A Motorola promete recursos de inteligência artificial com a tecnologia Moto AI, focada principalmente em fotografia: ajustes automáticos de imagem, otimização de cena e processamento inteligente.
Soa familiar? Deveria. Samsung tem Scene Optimizer há anos; Xiaomi tem IA em praticamente toda câmera desde 2023; Google inventou esse jogo com o Pixel.
A questão não é se a Motorola tem IA — todo mundo tem. A pergunta é: ela é melhor que a concorrência? E sem testes práticos com os aparelhos no Brasil, essa resposta fica no ar.
O sensor Sony LYTIA 600 é competente, mas não é o topo de linha (esse seria o LYTIA 700 ou 800). Em teoria, você deve ter fotos boas em luz natural e medianas à noite. Nada que um Redmi Note 13 Pro ou Galaxy A35 já não entreguem.
Como eles se comparam com o que você pode comprar hoje?
Aqui está o X da questão. Enquanto os Moto G57 aguardam confirmação para o mercado brasileiro, você já tem alternativas sólidas nas lojas:
| Especificação | Moto G57 Power | Redmi Note 13 Pro | Galaxy A35 5G |
|---|---|---|---|
| Processador | Snapdragon 6s Gen 4 | Snapdragon 7s Gen 2 | Exynos 1380 |
| Bateria | 7.000 mAh | 5.100 mAh | 5.000 mAh |
| Tela | 6,72″ 120Hz | 6,67″ 120Hz | 6,6″ 120Hz |
| Câmera Principal | 50 MP | 200 MP | 50 MP |
| 5G | Não especificado | Sim | Sim |
| Preço Estimado | R$ 1.800-2.200* | R$ 1.699 | R$ 1.999 |
*Estimativa baseada em preços europeus convertidos e histórico Motorola no Brasil
A análise é clara: o Redmi Note 13 Pro oferece processador superior e câmera com mais megapixels (embora megapixel não seja tudo). O Galaxy A35 traz a confiabilidade Samsung e 5G garantido. O Moto G57 Power vence isolado apenas na bateria.
O que muda para você no dia a dia?
Vamos ao que importa: impacto prático.
Com 7.000 mAh, você pode:
- Assistir dezoito horas de vídeo no YouTube (contra 10-12h em celulares normais)
- Usar GPS por meio dia seguido sem medo (essencial para motoristas de app)
- Passar um final de semana inteiro fora sem carregar o celular
- Usar o celular como power bank de emergência para fones ou smartwatch
Mas você vai enfrentar:
- Peso extra no bolso (provavelmente 200g+, como carregar dois celulares normais)
- Espessura maior (dificulta uso com uma mão)
- Tempo de recarga mais longo (mesmo com carregamento rápido, encher 7.000 mAh leva tempo)
A pergunta que você precisa responder: quantas vezes por mês você realmente fica sem bateria? Se a resposta for “raramente”, você está pagando — em peso e tamanho — por um recurso que não usa.
Vale a pena esperar ou comprar o que está disponível?
Aqui está a análise fria:
Compre o Moto G57 Power SE:
- Você trabalha o dia todo na rua sem acesso fácil a tomadas
- Viaja com frequência e odeia depender de power banks
- Bateria é prioridade número um para você
- Não se importa com peso/tamanho extra
Compre alternativas disponíveis SE:
- Quer um celular equilibrado em todos os aspectos
- Precisa de 5G confirmado
- Prefere processador mais potente para jogos
- Quer comprar agora, não esperar previsão incerta
A Motorola acertou ao identificar um nicho: existe público para bateria gigante. Mas errou no timing. Lançar em março na Europa e deixar o Brasil — um dos maiores mercados da marca — esperando por meses? Isso dá tempo para Xiaomi e Samsung consolidarem ainda mais a liderança no segmento intermediário.
A estratégia faz sentido?
Do ponto de vista de produto, sim. Há espaço para um intermediário focado em autonomia extrema. O problema é execução: sem 5G confirmado, sem data para o Brasil e competindo com marcas que já têm logística rodando.
A Motorola está tentando se diferenciar em um mercado saturado. Bateria gigante é um diferencial tangível, fácil de comunicar. “Dura três dias” vende mais que “processador 8% mais rápido”.
Mas no final, o consumidor brasileiro não espera. Se você precisa de celular novo agora, vai comprar o que está disponível. E quando o Moto G57 finalmente chegar por aqui, pode ser tarde demais — a concorrência já terá lançado a próxima geração.
O que nos leva a crer que 7.000 mAh impressiona no papel, mas no bolso, você sente o peso. Literalmente e figurativamente.
Será que a Motorola não está apostando na carta errada?
