Amazon demitiu 30 mil e apostou em IA: o experimento que transformou o mercado de trabalho tech
Lembra quando a Amazon anunciou que ia demitir até trinta mil funcionários corporativos e todo mundo entrou em pânico? Era novembro de 2022, e a notícia caiu como uma bomba: a gigante do e-commerce ia cortar 10% de sua força de trabalho administrativa. Três anos depois, finalmente podemos olhar para trás e entender o que aquilo significou de verdade — e por que você, profissional de tech no Brasil, precisa prestar atenção nessa história.
A Reestruturação que Virou Laboratório do Futuro
Há cerca de três anos, a Amazon confirmou oficialmente que eliminaria 14.000 cargos corporativos de cara, com potencial para chegar aos trinta mil. Para colocar em perspectiva: de uma força de trabalho administrativa de 350 mil pessoas, uma em cada dez simplesmente desapareceria do mapa. E aqui está o detalhe crucial que muita gente perdeu na época: os cortes não tocaram nos centros de distribuição. Sabe aquele pessoal que separa, embala e despacha seus pedidos? Esses ficaram intactos.
O alvo eram os escritórios. Gerentes de projeto, analistas, desenvolvedores, profissionais de marketing — justamente as áreas que a gente achava que eram “o futuro do trabalho”. A mensagem da Beth Galetti, vice-presidente sênior de Experiência de Pessoas e Tecnologia, foi clara: “reduzir burocracia, simplificar estruturas e realocar recursos”. Traduzindo do corporativês: fazer mais com menos gente.
Convenhamos, ninguém esperava que isso fosse dar tão certo.
Da Crise de 2022 aos Resultados de 2025: O Que Mudou?
Junho de 2022: A Amazon ainda estava em modo de expansão pós-pandemia, com 1,56 milhão de funcionários no total.
Novembro de 2022: Anúncio dos cortes massivos. O mercado entrou em choque; analistas previram catástrofe.
Início de 2023: Os cortes começaram a acontecer em ondas. Livros, dispositivos, serviços, até a divisão de podcasts Wondery — ninguém estava seguro.
2025 (hoje): A Amazon não só sobreviveu como se tornou mais lucrativa. O segredo? Inteligência artificial fazendo o trabalho que antes precisava de milhares de pessoas.
A empresa começou a usar IA generativa para escrever código, automatizar tarefas rotineiras e até gerenciar processos que antes exigiam camadas e mais camadas de aprovação. Aquela “burocracia” que a Beth Galetti mencionou? A IA simplesmente a eliminou — como um bisturi digital que removeu a gordura organizacional.
Amazon vs Outras Big Techs: Quem Cortou Mais?
| Empresa | Cortes Anunciados (2022-2023) | % da Força de Trabalho | Foco dos Cortes |
|---|---|---|---|
| Amazon | Até 30.000 | ~10% (corporativo) | Áreas administrativas e tech |
| Meta | 21.000 | ~13% | Recrutamento e operações |
| 12.000 | ~6% | Áreas de inovação e suporte | |
| Microsoft | 10.000 | ~5% | Gaming e vendas |
A Amazon não foi a única, mas foi a que mais apostou na substituição por IA como estratégia central. Enquanto outras empresas cortaram por crise econômica, a Amazon cortou para investir em automação. E isso fez toda a diferença.
A IA Realmente Substituiu Esses 30 Mil Empregos?
Aqui está a pergunta que todo mundo faz: a inteligência artificial de fato ocupou o lugar dessas pessoas? A resposta curta é: sim e não.
O que a IA assumiu:
- Escrita de código repetitivo (até 40% mais rápido que humanos em tarefas básicas)
- Análise de dados e geração de relatórios automáticos
- Atendimento ao cliente de primeiro nível
- Revisão e aprovação de processos simples
O que ainda precisa de gente:
- Decisões estratégicas complexas
- Criatividade e inovação disruptiva
- Gestão de crises e situações atípicas
- Relacionamentos humanos de alto valor
O grande aprendizado? A IA não substituiu “empregos” — ela substituiu tarefas. Os profissionais que sobreviveram foram aqueles que sabiam fazer o que as máquinas não conseguem: pensar fora da caixa, negociar, liderar e se adaptar rapidamente.
É curioso notar que muitos dos “demitidos” acabaram sendo recontratados em novas funções — como consultores especializados em implementar as mesmas ferramenias de IA que assumiram seus antigos cargos.
“Se a Amazon Fez Isso, Minha Empresa Pode Fazer Também?”
Essa é a pergunta que tira o sono de muita gente no Brasil. E a resposta honesta é: depende.
A Amazon tinha três vantagens que a maioria das empresas brasileiras não tem:
- Capital bilionário para investir pesado em IA de ponta
- Escala global que justifica automação massiva
- Cultura de eficiência brutal — eles não têm medo de arriscar
Mas aqui está o alerta: empresas brasileiras de médio e grande porte já estão seguindo o caminho. Bancos digitais, fintechs e gigantes do varejo nacional começaram a adotar IA generativa para reduzir custos. A diferença é que aqui o processo é mais lento e gradual.
O Nubank, por exemplo, já usa IA para aprovar cerca de 80% dos seus cartões de crédito. O Magazine Luiza implementou chatbots que resolvem 7 em cada 10 atendimentos sem intervenção humana. No fim das contas, a revolução já começou — só que de mansinho.
O Que Isso Ensina Para o Profissional Tech Brasileiro?
Três anos depois da reestruturação da Amazon, cinco lições ficaram cristalinas:
Especialização profunda salva carreiras: Profissionais que dominavam nichos específicos (segurança, arquitetura de sistemas, machine learning) foram os últimos a sair.
Soft skills viraram hard skills: Comunicação, liderança e pensamento crítico agora são tão importantes quanto saber programar.
Aprenda a trabalhar COM a IA, não contra ela: Os que usaram ferramentas de IA para potencializar seu trabalho se destacaram.
Diversifique sua empregabilidade: Ter uma segunda fonte de renda ou habilidades transferíveis virou seguro de vida.
Fique de olho nos sinais: Quando sua empresa começa a falar em “simplificar estruturas”, é hora de atualizar o LinkedIn — e rápido.
O Futuro Já Chegou — E Ele É Híbrido
A grande ironia da história da Amazon é que, três anos depois, a empresa está contratando de novo. Mas não para os mesmos cargos. As vagas agora são para especialistas em IA, cientistas de dados, engenheiros de prompt e profissionais que sabem extrair valor de sistemas automatizados.
O mercado de trabalho não acabou; ele se transformou. E a lição mais valiosa que a reestruturação da Amazon nos ensinou é simples: quem não se adapta, não sobrevive. Não importa o tamanho da sua empresa ou quantos anos você tem de experiência.
A pergunta que você precisa se fazer hoje não é “será que vou perder meu emprego para uma IA?”. É “o que eu estou fazendo hoje para garantir que, daqui a três anos, eu seja indispensável?”.
Porque uma coisa é certa: a próxima onda de reestruturações já está a caminho. E dessa vez, você vai estar preparado?
