M5 da Apple: o processador que domina em velocidade, mas deixa seu bolso no vermelho
Você pagaria 40% a mais por um computador que é campeão em uma categoria, mas fica para trás em outra? É exatamente essa a encruzilhada que o novo chip M5 da Apple coloca na mesa do consumidor brasileiro. Lançado há poucas semanas nos MacBook Pro e iPad Pro deste ano, o processador quebra recordes em testes de núcleo único, mas tropeça quando a disputa exige força bruta de múltiplos núcleos. A pergunta que ninguém está fazendo: isso realmente importa para o seu bolso — e para o que você faz no dia a dia?
O que os números realmente dizem (e o que escondem)
O M5 alcançou 4.263 pontos no teste single-core do Geekbench 6. Um resultado impressionante que deixa gigantes como Intel Core i9-14900KS e AMD Ryzen 9 9950X3D comendo poeira, com até 24% de vantagem. Mas vire a página do catálogo e a história muda: em multi-core, o chip registra 17.862 pontos, ficando atrás de desktops AMD com mais núcleos trabalhando em paralelo.
Processador | Single-Core | Multi-Core | Preço Médio (Brasil) |
---|---|---|---|
Apple M5 (MacBook Pro) | 4.263 | 17.862 | R$ 23.999 |
Apple M5 (iPad Pro) | 4.138 | 16.366 | R$ 14.999 |
Intel Core i9-14900KS | 3.435 | 22.567 | R$ 18.500* |
AMD Ryzen 9 9950X3D | 3.201 | 24.891 | R$ 16.200* |
Apple M4 (2024) | 3.838 | 14.880 | R$ 19.999 |
*Preço apenas do processador. PC completo equivalente: R$ 12.000-15.000
Single-core vs Multi-core: traduzindo para o português claro
Pense no single-core como um caixa de supermercado extremamente rápido. Ele atende um cliente por vez, mas faz isso com velocidade absurda. Já o multi-core? É como ter vários caixas trabalhando ao mesmo tempo — cada um um pouco mais devagar, mas juntos atendem muito mais gente.
Onde o M5 brilha (single-core dominante):
- Navegação na web e apps do dia a dia
- Edição de fotos no Lightroom
- Programação e compilação de código pequeno
- Aplicativos que não foram otimizados para múltiplos núcleos
- Responsividade geral do sistema
Onde o M5 fica devendo (multi-core limitado):
- Renderização de vídeos 4K/8K no DaVinci Resolve
- Modelagem 3D complexa no Blender
- Compilação de projetos grandes de software
- Simulações científicas e engenharia
- Exportação em lote de centenas de arquivos
O mistério térmico do iPad Pro
Aqui está um detalhe que a Apple não grita no palco: o mesmo chip M5 performa diferente dependendo de onde está instalado. No MacBook Pro, ele atinge 4,61 GHz de frequência máxima. No iPad Pro, para em 4,43 GHz — uma diferença aparentemente pequena que se traduz em 9% a menos de desempenho multi-core.
A razão? Física básica. O iPad Pro é fino como uma revista e não tem ventoinha. Quando o chip esquenta (e ele esquenta rápido em tarefas pesadas), o sistema reduz a velocidade para não virar uma chapa de sanduíche. É como ter uma Ferrari que só pode andar a 80 km/h porque a estrada não aguenta mais.
Dado que importa: Se você trabalha com exportação de vídeo ou renderização 3D por mais de quinze minutos seguidos, o iPad Pro com M5 pode ser até 15% mais lento que o MacBook Pro com o mesmo chip — uma diferença que se acumula em horas ao longo de um projeto.
A matemática brasileira que a Apple não mostra
Vamos falar de dinheiro de verdade. Um MacBook Pro 14″ com M5 custa R$ 23.999 no Brasil. Com esse valor, você monta um PC desktop com Ryzen 9 9950X3D que:
- Entrega 39% mais desempenho multi-core
- Permite upgrades futuros (memória, SSD, placa de vídeo)
- Custa R$ 15.000 completo, sobrando R$ 8.999 no bolso
Mas — sempre tem um “mas” — esse PC:
- Consome três vezes mais energia
- Ocupa espaço de uma caixa de som grande
- Não tem a mesma qualidade de tela, trackpad e teclado
- Roda Windows ou Linux, não macOS
Convenhamos: dinheiro não é tudo quando você passa oito horas por dia em frente ao computador.
Para quem o M5 realmente vale a pena?
Compre se você:
- Já está no ecossistema Apple (iPhone, iPad, AirPods) e valoriza a integração
- Trabalha principalmente com apps que dependem de single-core: web, design gráfico, programação
- Precisa de portabilidade real com bateria que dura o dia inteiro
- Valoriza silêncio absoluto — zero ruído de ventoinha
- Usa apps profissionais otimizados para Apple Silicon: Final Cut, Logic Pro
Pule se você:
- Faz renderização pesada de vídeo ou 3D diariamente
- Joga games que exigem placa de vídeo dedicada
- Precisa de múltiplos monitores externos (iPad Pro suporta apenas um)
- Tem orçamento apertado e prioriza custo-benefício bruto
- Trabalha com software que só roda bem no Windows
O elefante na sala: você precisa mesmo dessa potência?
Aqui vai uma verdade inconveniente — para 70% dos usuários, um MacBook Air com M4 (do ano passado) a R$ 13.999 faz exatamente o mesmo trabalho do dia a dia que o M5. A diferença de 11% em single-core é imperceptível ao abrir o Chrome, editar um documento ou até mesmo editar fotos.
A não ser que você seja editor de vídeo profissional, desenvolvedor compilando código gigante ou trabalhe com modelagem 3D, está pagando R$ 10.000 a mais por uma velocidade que você nunca vai usar completamente. É curioso notar que a indústria tech prospera vendendo capacidade que a maioria nunca exercita de fato.
Comparado ao próprio passado da Apple
Para ter noção da evolução: o M5 é 178% mais rápido em single-core que o M1 Ultra de 2022 — um chip que custava quarenta e cinco mil reais no Mac Studio na época. Em três anos, a Apple entregou o dobro da performance por metade do preço. Isso é progresso real.
E se você tem um Mac com M3 (de 2023)? A diferença para o M5 é de apenas 18% em single-core. Trocar agora significa gastar R$ 24.000 para ganhar menos de 20% de velocidade. A conta fecha?
Veredicto sem papas na língua
O M5 é o chip single-core mais rápido que você pode comprar hoje. Ponto. Mas ser o mais rápido não significa ser a melhor escolha para todo mundo. A Apple construiu uma Ferrari que domina em arrancadas curtas, porém perde em provas de resistência.
Para o profissional criativo brasileiro que valoriza portabilidade, silêncio e integração com iPhone, o MacBook Pro com M5 ainda é uma escolha sólida — desde que o trabalho não dependa de renderização pesada constante. Já o iPad Pro com M5 é um produto confuso: potência de desktop em um corpo que não aguenta entregar essa potência por muito tempo.
A pergunta final não é “o M5 é rápido?” — ele é. A pergunta certa é: “você precisa pagar R$ 24.000 por essa velocidade específica, ou um PC de R$ 15.000 resolve seu problema de forma mais eficiente?”
Só você, olhando honestamente para o seu fluxo de trabalho real (não o imaginário), pode responder isso. No fim das contas, o melhor processador não é o que ganha no benchmark — é o que cabe no seu orçamento e resolve o seu problema sem drama.